Meu primeiro contato sério com a expressão “amor próprio” foi no sentido mais obscuro do que isso pode significar. Entendia como um pseudo amor, e mais propriamente dito, um egoísmo, uma auto-afirmação, que seguia no sentido da arrogância e da prepotência. Via como energia que luta por apropriar-se de um lugar no mundo através do reconhecimento e que necessita mostrar aos demais que pode, que tem inteligência, que é sagaz, que não se deixa enganar facilmente, e enfim, que é capaz de sobrepor-se aos demais. Essa é na verdade a própria contraposição ao amor, que impede uma pessoa de se doar, de servir desinteressadamente, de se colocar no lugar alheio, e que a incapacita sentir compaixão.
Esse entendimento de amor próprio, quando alguém busca ser o melhor que pode na caminhada da vida, alimenta inevitavelmente o sentimento de culpabilidade porque, na minha experiência, transforma todas as tentativas de SER em verdadeiras derrotas. É o mesmo que dar com uma mão e tirar com a outra. Uma parte minha competia, outra se arrependia e se culpava. Porém, culpabilidade leva ao amor?
Amor a si mesmo, no sentido mais puro da palavra, é verdadeiramente onde tudo começa. É o ponto de partida para amar tudo e todos. Esse é o amor original, que carrega autorrespeito e gratidão em sua bagagem. Respeito pela grandeza da criação, que nos dá a oportunidade de existir, respeito pelo corpo que recebemos, pelo lar que nos dá proteção e cuidado, e nos permitiu crescer, e por todos ao nosso redor que influenciam nossa trajetória de aprendizados. E gratidão a tudo isso.
Compreender e sentir vibrar o amor por si mesmo é abrir a porta para que floresçam todas as nossas capacidades, é um salto de alta responsabilidade no oceano da vida livre. Livre de crenças limitantes, de conceitos herdados vindos de eras de dominação, do passado e muito presente. Conceitos impregnados em nosso DNA, deliberadamente cultivados no decorrer de milênios para robotizar o ser humano e colocá-lo a servir inconscientemente, com objetivos alheios ao amor, e para isso um eficiente aliado é o sentimento de culpabilidade.
Amar-se a si mesmo é o ponto de partida para uma viagem maravilhosa que vai despertar o criador que dorme em nós. Estamos aqui para criar, cada um tem uma habilidade adormecida feita para servir sim, mas de forma consciente e livre de medos e culpas. Servir ao objetivo nobre da dinâmica perfeita da vida. Só o amor traz a luz da consciência e ilumina os caminhos para tomar decisões acertadas, bem embasadas, dignas de SER humanos. Só o amor como guia nos abre os olhos internos para enxergar qual é o nosso verdadeiro papel dentro do teatro da vida. Só o amor nos traz discernimento e proteção, é o condutor da nossa nave na existência, é o alimento e o alento em todas as situações.
E como sentir esse amor sem amar o milagre da criação expresso em nós?